terça-feira, 25 de agosto de 2009

Remédio biológico para solos intoxicados


O México começa a lutar contra o enorme passivo ambiental deixado pela exploração de petróleo aplicando métodos de limpeza biológica, que degradam álcoois, solventes, glicerinas, óleo combustível, gasolina, óleo, benzeno e acetonas, para convertê-los em carbono e água. Sob o nome de biorremediação, trata-se de um processo no qual “os micróbios, como bactérias ou fungos, degradam químicos perigosos em compostos menos tóxicos ou não tóxicos”, já que os materiais nocivos servem de alimento a esses microorganismos, segundo define a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.
Em 1933, a empresa de refino de combustíveis El Áquila pôs em funcionamento a unidade 18 de Março, em Azcapotzalco, a noroeste da capital mexicana, estatizada em 1938 pelo presidente Lázaro Cárdenas (1934-1940), no contexto da nacionalização do petróleo. Desde 1976, a companhia processou 105 mil barris de petróleo por dia, e chegou a contar com 14 instalações de refino, três unidades petroquímicas, 218 tanques de armazenamento e terminais de embarque e desembarque. O governo ordenou seu fechamento em março de 1991 por ficar em uma área urbana. O remanescente é um terminal de armazenamento e distribuição de combustíveis, que é necessário eliminar.
O governo federal decidiu que o ex-complexo industrial, propriedade da estatal Petróleos Mexicanos (Pemex), se converterá no Parque Ecológico do Bicentenário, de 55 hectares, que será inaugurado em 2010 como parte das comemorações dos 200 anos da independência mexicana da Espanha. Porém, o primeiro passo é eliminar os resíduos herdados da atividade petroleira, já enfraquecidos pelo tempo transcorrido desde o fechamento. Uma das técnicas empregadas é a correção biológica do terreno com diferentes técnicas.
Uma delas é a retirada de porções do solo contaminado, que depois são tratadas com os microorganismos. Outra é o uso de “biopilhas”, a aeração de segmentos de solo para estimular a atividade biológica e, se necessário, são adicionados nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio. Também são praticadas a extração de vapores tóxicos e a injeção de ar nas águas subterrâneas para absorver o benzeno e levá-lo até poços de extração de vapores, para captura e tratamento.
“O aumento da atividade petroleira e de gás traz consigo muitos resíduos, tanto pela perfuração de poços quanto por vazamentos dos próprios hidrocarbonos, por isso é intensificado o tratamento de solos para recompô-los”, disse ao Terramérica o pesquisador Patrício Rivera, da estatal Universidade Autônoma de Tamaulipas, no Estado de mesmo nome, onde fica a Refinaria de Madero. Rivera trabalha em um projeto de biocorreção de restos de perfuração de poços na zona gasífera da Bacia de Burgos. Trata-se de eliminar misturas de óleos e gases do solo por meio de bactérias nativas. A pesquisa estará concluída em dezembro.
Embora estas técnicas sejam aplicadas em muitos lugares do mundo, é preciso pesquisa local para encontrar os microorganismos nativos mais aptos. Os cientistas identificaram pelo menos 22 bactérias e 26 fungos autóctones aptos para esse trabalho de limpeza. “A biodiversidade que temos nos dá um potencial muito grande. Ainda se trabalha com uma pequena quantidade de microorganismos, por isso é preciso pesquisar mais”, explicou ao Terramérica a acadêmica Katiushka Arévalo, da estatal Universidade Autônoma de Nuevo León, no Estado de mesmo nome, onde opera a Refinaria de Cadereyta.
A crescente popularidade desta prática está na simplicidade de sua aplicação, em sua eficácia, em sua harmonia com o meio ambiente e em seu baixo preço, que pode oscilar entre US$ 80 e US$ 150 por metro cúbico, em todo caso mais barato do que outras fórmulas de descontaminação, como incineração ou lavagem do solo. No México há vastas regiões contaminadas com derivados de petróleo que se acumulam nos ecossistemas marinhos e nos solos. Mais da metade da exploração petroleira do país se encontra nos Estados de Tabasco e Veracruz, onde são freqüentes os vazamentos de hidrocarbonos.
Em 2003, foi criada a empresa Grupo de Projetos e Serviços Ambientais, formada por pesquisadores da estatal Universidade Autônoma Metropolitana, para oferecer serviços de regeneração, sobretudo com microorganismos, em áreas afetadas por hidrocarbonos. Até agora, essa companhia assinou com a Pemex mais de 200 contratos para limpar terrenos contaminados. Além disso, há pelo menos 15 empresas que entre seus serviços oferecem a biocorreção, uma modalidade também experimentada em outros países latino-americanos, como Cuba e Argentina.
A descontaminação da ex-refinaria de Azcapotzalco, que terminará em dezembro com custo em torno de US$ 80 milhões, está a cargo de sete instituições universitárias de todo o país. Os especialistas consideram que a biocorreção ganhará mais destaque nos próximos anos. De fato, o México recebeu, em fevereiro, o XIV Simpósio da Rede Latino-Americana de Ciências Biológicas, criada em 1975 para promover estas disciplinas na região, e cujo tema central foi a biocorreção.
“O país vive uma situação grave, em alguns lugares há vazamentos em mangues e corpos de água. Por isso, são necessários estes métodos”, disse Rivera. “O uso da biocorreção vai aumentar, é uma área que ganha cada vez mais importância, e agora há mais conhecimento e por isso vejo um futuro para ela”, disse Arévalo, que trabalha com fungos que produzem enzimas que eliminam colorantes ou derivados de compostos aromáticos.
Em outubro de 2006, o Ministério do Meio Ambiente e de Recursos Naturais e os estatais Instituto Mexicano do Petróleo e Instituto Nacional de Ecologia publicaram um manual de técnicas de análises de solos aplicadas à correção de áreas contaminadas.
(Fonte :Terramérica - 23/8/2009)

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